Nós falamos do amor de Deus, falamos da graça recebida, falamos do perdão recebido. Afirmamos que amamos a Deus, mas expressamos de fato o amor que temos e demonstramos em atitude este amor?
Este é o ponto que temos que pensar. Em Lucas sete (7), a partir do verso 30, Jesus vivenciou uma situação entre Simão (um fariseu) e uma mulher (prostituta). Os dois respondem de forma diferente ao que Ele representava.
Jesus ensinando, e querendo abrir os olhos de Simão, fala sobre dois devedores, um devia 500 moedas de prata e o outro 50. Ambos foram perdoados. Então Jesus lhe pergunta que amaria mais aquele que os perdoou. Simão, sabiamente, responde que a quem mais perdoou, e então, Jesus fala sobre a atitude da mulher, prostituta, e de dele (Simão, o religioso) e disse: “Eu afirmo a você, então, que o grande amor que ela mostrou prova que os seus muitos pecados já foram perdoados. Mas onde pouco é perdoado, pouco amor é mostrado.” (Lucas 7:47, NTLH).
Quando lemos esta história o que podemos perceber? Trata de quem perdoou? Não, não se trata de quem perdoou, mas de quem recebe o perdão. A nossa compreensão do perdão recebido é que determina o nosso comprometimento com quem nos perdoou e a demonstração de amor pelo que recebemos.
Se nos achamos justos, bons, ou, não tão pecadores assim, não teremos a percepção do perdão concedido por Deus, por meio da cruz, onde Ele cumpre a Sua justiça, através da morte de Jesus Cristo. Quando nos consideramos relativamente bons, e não tão pecadores, não temos a consciência da nossa situação de miserabilidade diante de Deus, não nos vemos como pobres de espírito, como efetivamente de pessoas que carecem de Deus e dependem Dele completamente. Achamos que somos relativamente bons e que fazemos as coisas que precisamos fazer e que Deus não precisa ter tanto trabalho por nós. Estamos entendendo? Não se trata do que Deus fez, mas de como nos achamos. Se achamos que somos justos, não nos enxergaremos como miseravelmente pobres e dependentes de Dele para termos acesso ao que Ele nos oferece gratuitamente que é o Seu perdão.
Quando não nos enxergarmos como miseráveis, não nos arrependeremos de nosso pecado, não nos apartaremos do nosso orgulho, arrogância. E acharemos que somos até bonzinhos diante de Deus. Tendo este entendimento, como expressaremos a nossa gratidão? Nos ofereceremos a Ele para cumprir a Sua vontade? Não, manteremos uma atitude de resistência, de negligência, de indolência diante do que temos que fazer, do que somos e do que recebemos de Deus.
O nosso compromisso pessoal com Ele não é integral. Não sendo integral, será que nos arrependemos? Será que nos reconhecemos de fato como pecadores? Será que estamos agindo como a prostituta ou como Simão, e sendo somente religiosos?
A expressão de amor está de fato na obediência, do cumprir a vontade do Pai, de realizar o Seu querer, de fazer segundo o que Ele deseja e ensina. Não está na perspectiva do outro, do que os outros estão fazendo, mas de como nos vemos diante de Deus. Quanto mais compreendemos a nossa miserabilidade, pecado, o estar separado de Deus, independente do tipo de pecado que cometemos, mais nos comprometeremos com Deus e com o Seu reino e no realizar do Seu querer.
Precisamos entender que o comprometimento com Deus, com Sua vontade, com o realizar do Seu querer, com o obedecer, não depende das pessoas à nossa volta, mas no nosso entendimento do perdão recebido. Precisamos do discernimento de que não existe pecado grande e nem pequeno, que mentira e assassinato estão no mesmo grau de severidade diante da natureza, do caráter e dos valores de nosso Deus e ambos nos mantem separados e longe da vida de Deus.
Quando temos a consciência do pecado, não nos resta alternativa, diante do compromisso com o Pai, abandonar, rejeitar, lançar fora qualquer coisa, independente do que seja, longe da nossa vida, pois fomos comprados por preço muito alto, e que devemos santificar o nosso procedimento, para que o nosso Deus se revele em nós e através de nós. A carreira que temos, o processo de santificação, o caminhar rumo ao nosso destino para sermos semelhantes a Jesus, não é uma opção, mas uma demonstração de amor por tudo que recebemos, independente de quanto moralmente fomos bons segundo o pensamento do mundo.