Deus: um gozador?

Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:8-9).

Por que gosto destas palavras de João Batista que são direcionadas aos religiosos da sua época, quando ele estava preparando o caminho para o ministério de Jesus?

Por um simples motivo. Os religiosos referiam a si mesmo como os melhores, os bons, como “os filhos de Abraão”, como se fossem alguma coisa especial, um sangue azul. O que fazemos em nossos dias? Como nos posicionamos? Não estamos fazendo a mesma coisa, ao nos colocar, através das palavras, como se estivéssemos acima dos homens “normais”? Ou até mesmo como um religioso expressou, mas e está “ralé” que nada entende?

Em nossa religiosidade, normalmente, procuramos esconder o “podre” e “imperfeito” que somos ou fomos, negando o nosso passado. Mas nunca e nem é da vontade de Deus que façamos isso, muito pelo contrário devemos deixar claro quem fomos, não com orgulho, mas para revelar a misericórdia e a graça de Deus que foi e é revelada em nossas vidas, nos transformando em alguém que seja agradável a Ele.

No início do evangelho de Mateus, vemos a genealogia de Jesus, normalmente, pensamos que “saco” é ler a linhagem, ou seja a árvore genealógica, fulano filho de siclano, que era filho de tal, etc. Podemos olhar a genealogia de Jesus de duas maneira, somente para identificar que ele veio de Davi, portanto era o messias prometido. Mas podemos olhar com olhos diferentes, e vermos que Jesus veio de uma linhagem um pouco eclética e que não tem nada de pura e sangue azul.

Podemos até questionar, mas como é isso? Sim, a linhagem de Jesus não era tão santa assim, vamos a alguns exemplos: Quem foi Abrão de fato, aos olhos humanos? Para muitos um lunático, que conversava com Deus, e para atender o seu desejo estava disposto a assinar o seu filho (como um sacrifício). Quem foi Jacó? Um dos maiores sacanas que roubou a progenitura acomunado com sua mãe, do irmão. Quem foi Tamar? A nora de Judá, que coabitou com ele, e fez isso, como uma prostituta, para gerar a Perez, porque Judá não tinha cumprido com a obrigação de dar o seu filho ela. E Arão? Um moleirão, que se colocava com líder, mas que a pedido do povo de Israel, quando no deserto, fez um bezerro de ouro para que o povo adorasse em lugar de Deus. Isto porque Moisés tinha enfiado na montanha e não voltava. Teve Rute, que foi uma excelente pessoa, mas lamentavelmente não era Judia; portanto não digna de estar na linhagem de Jesus. Teoricamente não poderia nem estar na linhagem de Jesus e nem ser a avó de Davi. E Davi? Que tanto exaltamos, quem de fato foi?  Um adúltero e um assassino do marido da mulher com quem havia transado, e assim tem tantos outros. Esta é uma verdadeira linhagem de dar orgulho a qualquer um.

 O que Deus deseja nos mostrar nisto tudo? Os defeitos?

Não, uma só coisa quer revelar e mostrar. Não é o que somos, nem a nossa origem que determinam o quanto podemos ser usados. Não importa se fomos ladrão, ou não. Assassinos ou não. Pobres ou ricos. De uma “família” ou não, de uma linhagem perfeita ou não. Mas sim, a nossa capacidade de nos colocarmos debaixo de suas asas, sermos dependentes, entregarmos o nosso coração, nos submetermos a sua vontade é que irá determinar o quanto seremos instrumentos para manifestar a vida de Deus aos homens.

Ele na sua graça e misericórdia nos capacita, nos transforma e nos leva a ser o instrumento que ele precisa. Mas para tal, precisamos nos colocar em suas mãos, entregar o nosso coração e as nossas vidas ao senhorio de Jesus, para que como instrumentos possamos ser usados para a sua glória e para louvor do seu nome.

Agora, com tudo isso; é ou não Deus um gozador da nossa hipocrisia, liturgia, orgulho, arrogância, prepotência, ignorância?. Não destrói ele toda a nossa sabedoria com a sua loucura? Não usa ele as coisas aparentemente loucas deste mundo para destruir a sabedoria humana? Deixemos de ser religiosos de servir aos nossos interesses, abandonemos os valores deste mundo, para vivermos a vida de Deus!!!