Dois pesos e duas medidas

Afirmamos saber e fazer a diferença entre o pecador e o pecado; mas no nosso dia a dia, na prática, acabamos sendo criteriosos e exigentes com o pecador e complacentes com o pecado.

No livro de Atos dos apóstolos, podemos ler uma história que aconteceu no seio da igreja, ainda no seu início, onde um homem e sua mulher decidem mentir, sobre o valor da venda de um terreno que diz o seguinte: “Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus. Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os ouvintes. Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e, levando-o, o sepultaram. Quase três horas depois, entrou a mulher de Ananias, não sabendo o que ocorrera. Então, Pedro, dirigindo-se a ela, perguntou-lhe: Dize-me, vendestes por tanto aquela terra? Ela respondeu: Sim, por tanto. Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão.” (Atos 5:1-9).

Por que devemos condenar um pecado e ser complacentes com outros? Por que podemos aceitar a mentira no que denominamos de igreja e não somos capazes de aceitar a atitude e comportamento do homossexual, prostituta ou ladrão? Na história de Ananias e Safira não tinha espaço e nem razão para a mentira. Tudo era deles e poderiam fazer o que quisessem; mas decidiram praticar a mentira. Mentiram para os homens? Sim, mas tudo que fazemos aos homens, também fazemos a Deus.  A questão não era o ato, mas quem praticou o ato. Se os dois conheciam a verdade, compreendiam a natureza de Deus, não lhes era permitido o fazer de forma contrária a natureza de Deus, que afirmavam conhecer.

Precisamos aprender uma coisa e que é muito importante: não é o nosso apontar, acusar que fará com que as pessoas deixem de pecar; mas sim, o nosso testemunho, nossa atitude, nossas ações, revelando que conhecemos a luz que levará as pessoas a enxergarem a luz e dela se aproximarem. Quanto mais enxergarmos o pecado, ou seja, o cisco no olho do outro, e não enxergarmos a trave no nosso, ou seja, o nosso pecado, não manifestaremos a justiça e nem a vida de Deus; pois andaremos de forma contrária ao que Deus determina que é a atitude de manifestação do amor para com o próximo.

Até quando não compreenderemos que libertar as pessoas de seu jugo, não é por imposição e nem por apontamento de suas fraquezas e erros; mas pela demonstração da capacitação recebida de Deus, da libertação que nos foi concedida, pelo nosso exemplo que as pessoas irão experimentar a liberdade que pode ser recebida por meio de Jesus Cristo.

Não estamos neste mundo para fazermos religiosos e nem para sermos religiosos. Não estamos aqui para ensinar bons modos; mas sermos exemplo, vivermos segundo os valores do reino de Deus. Ser um povo que revela a justiça e a vida de Deus. Ao revelarmos a vida de Deus então, as pessoas que são de Deus, que desejam conhecer a vida de Deus, se aproximarão para experimentar da mesma água viva que temos bebido. Devemos rejeitar todo o pecado em nossas vidas, para sermos luz do mundo; mas jamais, condenar o pecador, ou as suas atitudes de pecado. Se fizermos isso, jamais, conseguiremos levar as pessoas ao entendimento da vida de Deus. No meio da igreja, do corpo de Cristo, não pode haver pecado (qualquer tipo de pecado). Precisamos, antes, julgarmos a nós mesmos a julgarmos ao mundo. Como Jesus afirmou: “Ele não veio para julgar, mas para trazer vida”. Nós também, não estamos aqui para julgar; mas para levar vida ao mundo.

Não sejamos complacentes com o nosso pecado; mas para com as pessoas; manifestemos vida, graça, compaixão, misericórdia, como Jesus demonstrou para com a mulher adúltera.