No evangelho de Mateus podemos ler a parábola do credor incompassivo (Mt 18:23-25). Nesta fala de um devedor que devia ao seu senhor, 10.000 talentos, e que ao clamar por perdão, sua dívida foi perdoada. Mas este devedor, logo após sair daquele lugar, encontra um conservo que lhe devia cem denários. Mas qual foi a sua atitude para com este? Não perdoou a sua dívida, não concedeu o perdão como recebeu. E a história termina assim: ” Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?” (Mateus 18:32-33). ” Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.” (Mateus 18:35).
Vamos entender a questão da dívida. Para simplificar, dez mil talentos, seria o mesmo que 1,5 bilhões de reais. Imaginando-nos, na condição de trabalhadores (como o servo), quando poderíamos pagar esta dívida, ganhando três salários mínimos, que corresponde a pouco mais de R$ 2 mill reais? (Quantos ganham tão bem?). Se pegássemos todo este salário para pagar a dívida, levaríamos mais de 52 mil anos. É uma dívida possível de ser paga? Já o outro devia um pouco mais de 10 mil reais.
Quando concedemos perdão? Quando compreendemos o tamanho da nossa dívida que temos com Deus e o quando fomos perdoados. Somente tendo a noção exata do perdão recebido que podemos conceder perdão às outras pessoas. Mas enquanto pensarmos que o ato de perdão recebido tem pouco valor; então não perdoamos as falhas e nem os erros dos outros.
Precisamos ter a noção exata do que falamos, do que prometemos e o que o nosso Deus quer nos ensinar. Na oração do “Pai nosso”, quando falamos: “perdoa as nossa dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores”, o que estamos afirmando?
Enquanto não tivermos esta consciência de perdão recebido; jamais seremos capazes de perdoar. Enquanto acharmos que não temos uma dívida, ou acharmos que não somos devedores, ou mesmo acharmos que somos “bons”, jamais seremos capazes de conceder o perdão a outros. Ninguém será digno de receber o perdão que temos que conceder; porque não nos vemos como devedores perante o Criador.
Por isso Jesus disse que se não perdoarmos, o nosso Pai não nos perdoará. Deus de fato não nos perdoará? Não, não é esta a questão. O ato de concessão do perdão já foi realizado na cruz, na morte de Jesus para que recebêssemos o perdão; mas nós é que não tomamos a posse deste; por acharmos que somos bons e que não necessitamos.
Enquanto acharmos que podemos fazer algo, que as nossas obras nos justificam, que somos “bons religiosos”; então, não tomaremos posse do perdão e nem seremos capazes de reconhecer que os “outros” são dignos de perdão; assim como nós fomos; mesmo que não mereçamos.
Nisto está o amor de Deus por nós, e nisto deve estar o nosso amor para com o próximo, revelando compaixão e graça. Concedemos perdão; não porque o outro merece, não porque é digno; mas porque como nós, ninguém é merecedor de perdão; mas o fazemos porque Deus nos perdoou primeiro.
Na cruz, o preço pago foi muito alto, alto para o nosso Deus; mas é justamente na cruz que está toda expressão de amor por nós e do perdão imerecido que foi nos dado. Precisamos, portanto, julgar as nossas atitudes, nossas ações. Temos que olhar a motivação que preenche o nosso coração, os nossos sentimentos, se estes estão carregados da natureza humana, ou se cheios da vida imerecida recebida do Criador.