Conhecimento, não relacionamento de troca

Se não entendermos o propósito e nem compreendermos a vontade de Deus, Seu plano, e o que estabeleceu desde a criação do homem quanto ao relacionamento, a comunhão proposta, viveremos uma religiosidade e uma paranóia que não traduz em nada a vontade do Criador.

O propósito de Deus é que o conheçamos a Ele. Isto foi o que Ele sempre falou. Precisamos conhecer e compreender a Sua natureza e vivermos segundo este princípio, como falou a nação de Israel: “Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus;  e sabereis que eu sou o Senhor, vosso Deus, …” (Êxodo 6:7) e “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei;  eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” (Jeremias 31:33).

Quando falamos de relacionamento, seja entre amigos, entre homem e mulher, e até mesmo entre homem e Deus, como pensamos, como concebemos? O que de fato buscamos? Qual a nossa motivação? Por que entramos em um relacionamento?

Precisamos analisar a nossa motivação, a razão do que queremos e porque queremos, caso contrário sairemos deste relacionamento frustrados e não tendo as nossas expectativas atendidas. E isto é o que normalmente acontece. Se compreendermos o que Deus deseja nos ensinar e como devemos estabelecer os relacionamentos, nunca os mesmos serão frustrantes e nem nos decepcionaremos.

Precisamos analisar à luz da nossa natureza. Quando queremos um relacionamento, estamos buscando satisfazer nossas necessidades, suprir as nossas faltas e nossas carências? Entramos com uma visão egoísta de termos lucros e alcançarmos o que desejamos e queremos? Pensamos somente em nós e na obrigação que o outro tem para satisfazer e atender nossas expectativas? Se é assim que agimos nos nossos relacionamentos, então estamos querendo estabelecer um relacionamento segundo a natureza humana, egoísta. E se assim queremos estabelecer um relacionamento com Deus, podemos ter a convicção, a certeza que este será frustrado e não teremos as nossas expectativas atendidas.

O relacionamento com Deus não é fundamentado em um propósito de troca, de atendimento de nossos desejos e satisfação de nossas necessidades. Deus não é uma divindade que existe para atender o que desejamos e como desejamos, no momento em que queremos.

Como podemos observar a condução de nosso relacionamento com Deus? Pela maneira como oramos, como fazemos as nossas petições. Temos em Deus um servo para fazer tudo e nos atender da forma como queremos no  momento que desejamos? Se assim fazemos, então, não estamos nos relacionando com Deus e nem conversando com Ele; estamos fazendo petição a uma divinidade que com base na nossa obediência, no fazer o que compreendemos que temos que fazer, reconhecemos que merecemos receber algo em troca.

Se assim, agimos no nosso casamento, se achamos que a mulher ou o marido existe para satisfazer a nossa necessidade, suprir o que desejamos, também, o nosso casamento será frustrado e não durará muito, a não ser que um sucumba à necessidade do outro e se omita, mas nunca será um relacionamento como planejado por Deus e como deveria ser.

O relacionamento entre Deus e os homens, e entre os homens, devem ser fundamentado não na relação de troca, causa e efeito, mas sim, na doação, no agir em favor do outro, baseado no amor, conforme descrito em 1 Co 13. O objetivo é conhecer, é ser capaz de suprir, de demonstrar compaixão, de ajudar, de levar o outro a algo maior, mais maduro. E o relacionamento é fundamentado em uma via de mão dupla, nos dois sentidos, não em uma só direção, pois sendo em uma só direção, também, não chegará a lugar algum.

Quando o Senhor afirmou que seríamos o Seu povo, que inscreveria em nosso coração a Sua lei, e quando Jesus afirmou que quem o amasse obedeceria aos Seus mandamentos, isto porque traduz a natureza de Deus e o que Ele deseja que aprendamos. Não é imposição, não é por obrigação, mas uma expressão natural por compreendermos quem somos, o que Deus fez por nós, Seu amor expresso na cruz para nos reconciliar com Ele, e a Sua doação em nosso favor.

E como expressão de amor, de gratidão, nós temos e devemos fazer o mesmo, nos dar, nos doar em Seu favor. Assim como Jesus disse em Sua oração, João 17, que a vida eterna era conhecer a Deus.

Somente desenvolvemos o verdadeiro relacionamento que produz fruto, conhecimento e a verdadeira vida, quando nos submetemos a Deus, quando nos entregamos a Ele como Ele se entregou por nós. Quando fazemos assim, buscando conhecer, satisfazer a Sua vontade, então conheremos os frutos do que seja a verdadeira vida, o verdadeiro relacionamento. Quando compreendemos isto, então, os nossos relacionamentos com os outros serão fundamentados no mesmo princípio, então, não nos frustraremos, não nos decepcionaremos, pois não existe relação de troca, não existe expectativa, mas sim, o doar como expressão de amor em favor do outro.

Deus não é uma divindade que existe para satisfazer e atender os nossos desejos. Nem podemos usar as pessoas como objeto de troca e alcance de nossos desejos. Precisamos, para viver a vontade de Deus, como Jesus falou, negarmos a nós mesmos, tomarmos a cruz (morrer para a natureza humana) e seguí-Lo, ou seja, sermos Seus imitadores. Simples? Sim, e não existe outra alternativa! O foco não é nós, nosso desejo, nem o nosso objetivo, mas sermos instrumentos para a edificação, para ajudar os outros.