Utopia Evangélica

Precisamos compreender, antes de mais nada o que seja utopia. Dentre algumas definições, podemos resumir, segundo o dicionário Aurélio: fantasia, quimera, projeto irrealizável. Ou seja, algo que não existe, algo que está fora de uma realidade, seja ela natural ou espiritual.

Os crentes de modo geral, entenda de modo geral, não são todos; mas a grande maioria, ou seja, tanto os evangélico, os protestantes, qualquer  seita e ensinamento dito por ensinar e apregoar a salvação pela fé, falam de um evangelho distante do que Cristo pregou e ensinou, que Paulo nos ensina em suas cartas. Uma meia verdade, que procura deturpar a verdade da cruz. Até mesmo poderíamos dizer que é um evangelho carnal, que fala de Cristo mas não vive o que Cristo ensinou, somente tira as coisas boas e que negam a verdade da cruz.

Esta utopia podemos observar nas canções, nas pregações, e nas próprias vidas e até mesmos por uma questão de comodidade e de um viver na carne. Não entendemos e nem compreendemos “de fato”, “de modo prático” o que seja viver o evangelho do Senhor. Quando lemos, quando pregamos, quando ouvimos, somente absorvermos o que é de nosso interesse e desejo; mas negamos o verdadeiro significado e atitude que temos que tomar diante de um viver diário.

Exemplo: Não reconhecemos que somos responsáveis pelos nossos atos e pecados, como Adão e Eva, sempre procuramos julgar a culpa nos outros. Não assumimos diante de Deus, dos homens, o verdadeiro arrependimento que João batista apregoou no deserto, que Jesus tanto falou, e que Paulo e os demais apóstos ensinaram em suas cartas. De um evangelho vivo, de uma obediência incondicional, e de um viver diário que agrade a Deus, como nas palavras do Senhor “quem me ama, obedece aos meus mandamentos”.

Separamos as nossas vidas da vida de Deus, e achamos que Deus está distante de nós, imputamos a Deus a responsabilidade de nos transformar, pedimos e clamamos para que ele nos transforme, nos mude, nos faça nova criatura. E esquecemos que o que Paulo nos ensina é ao contrário, ou seja, a responsabilidade de transformar é nossa, como ele escreveu: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. ” (Romanos 12:1-2, RA Strong)

Pedimos que derrame sobre nós o seu Espirito, pedimos para que o Espírito venha sobre nós. Precisamos compreender que o que Deus tinha que fazer, ele já fez, no novo nascimento. Fomos feito novas criaturas, fomos reconciliados com Deus.

Pedimos, oramos, clamamos na carne, para que a nossa alma tenha prazer, pedimos para que ele nos encha do seu Espírito; mas não compreendemos que a atitude de encher do Espírito, depende de nós, de nossas atitudes e do que fazemos, e viver uma vida cheia do Espírito, não é viver uma vida debaixo do governo da alma, como Paulo escreveu: “Não se embriaguem, pois a bebida levará vocês à desgraça; mas encham-se do Espírito de Deus.” (Efésios 5:18, NTLH), e depois ele discorre como encher do Espírito, com viver uma vida cheia do Espírito.

Outra coisa, achamos que somos incapacitados, não temos condição de fazer e nem viver conforme a vontade de Deus, e não  compreendemos o que Pedro escreveu: “O poder de Deus nos tem dado tudo o que precisamos para viver uma vida que agrada a ele, por meio do conhecimento que temos daquele que nos chamou para tomar parte na sua própria glória e bondade. Desse modo ele nos tem dado os maravilhosos e preciosos dons que prometeu. Ele fez isso para que, por meio desses dons, nós escapássemos da imoralidade que os maus desejos trouxeram a este mundo e pudéssemos tomar parte na sua natureza divina.” (2 Pedro 1:3-4, NTLH)

Por isso, viver uma vida que agrada a Deus, não depende de Deus, mas sim, como escolhemos viver e como tomamos as decisões que nos são apresentadas. Podemos escolher viver segundo a carne, ou segundo a vontade de Deus, revelando a sua glória.

Outra coisa que não fazemos certo é com relação aos dons e bençãos. Já recebemos tudo de Deus, já fomos abençoados, só não sabemos usar porque não obedecemos ao Espírito do Senhor que nos foi concedido no novo nascimento, buscamos o que é de nosso interesse; não do corpo. Na carta aos efésios, está escrito: “Agradeçamos ao Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, pois ele nos tem abençoado por estarmos unidos com Cristo, dando-nos todos os dons espirituais do mundo celestial.” (Efésios 1:3, NTLH).

Outra coisa que cantamos e oramos é para que a glória de Deus venha “sobre” nós, não é assim, “derrama a sua glória sobre nós”. E não entedemos que já recebemos da glória, da  natureza de Deus, da vida de Deus, como Jesus orou, como Paulo escreveu: “A natureza divina que tu me deste eu reparti com eles a fim de que possam ser um, assim como tu e eu somos um.” (João 17:22, NTLH). “Portanto, todos nós, com o rosto descoberto, refletimos a glória que vem do Senhor. Essa glória vai ficando cada vez mais brilhante e vai nos tornando cada vez mais parecidos com o Senhor, que é o Espírito.” (2 Coríntios 3:18, NTLH).

Precisamos, assim, como tantas outras coisas, conhecer e compreender o que Jesus nos ensinou e falou. Por isso, precisamos do conhecimento, da revelação. E a revelação só vem, com uma vida que anda segundo o Espírito de Deus. Não podemos viver a vida de Deus (sua glória) revelada através de nós, andando na carne. Quem anda na carne não pode agradar a Deus e nem revelar a Deus, e nem ter uma vida cheia do Espírito, e nem ser capaz de tomar as decisões conscernentes ao reino de Deus e as virtudes do reino, como está escrito: “As pessoas que vivem de acordo com a sua natureza humana não podem agradar a Deus. Vocês, porém, não vivem como manda a natureza humana, mas como o Espírito de Deus quer, se é que o Espírito de Deus vive realmente em vocês. Quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele. Mas, se Cristo vive em vocês, então, embora o corpo de vocês vá morrer por causa do pecado, o Espírito de Deus é vida para vocês porque vocês foram aceitos por Deus. Se em vocês vive o Espírito daquele que ressuscitou Jesus, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dará também vida ao corpo mortal de vocês, por meio do seu Espírito, que vive em vocês.” (Romanos 8:8-11, NTLH).

Precisamos entender o que Jesus disse sobre “por a mão no arrado e não olhar para trás”, precisamos entender o que seja “morrer para nós mesmos”, “fazer morrer a natureza humana”, “pegar a cruz e seguir dia após dia”.

O evangelho se revela através de nós, cartas vivas, mas “cartas vivas” e o “bom perfume de Cristo” somente revelaremos, se vivermos uma vida segundo a cruz, fazendo morrer a natureza humana, abrindo mão do que pensamos e achamos, do que desejamos, dos prazeres deste mundo, do conforto que tanto anelamos, de uma vida de ociosidade que tanto prezamos. Morrer para nós mesmos é o fundamento de uma vida com Cristo, conhecer e compreender a carta que Paulo escreve aos romanos é fundamental para um viver diário segundo o coração do Senhor. Pois fala da morte, fala da cruz, fala da libertação do poder do pecado. Não podemos nos deixar enganar pelo diabo, que vive ao nosso derredor, e pela nossa ignorância, não nos leva a obediência da cruz; mas sim, nos incentiva a viver uma meia verdade (enganando-nos a nós mesmos); pois sem cruz, sem morte, não existe vida, não existe uma vida cheia do Espírito, e nem há uma manifestação da glória de Deus.

Queremos viver uma vida cheia do Espírito? Queremos manifestar e revelar a glória de Deus através de nós, manifestando a vida de Deus que está em nós? Queremos andar e sermos semelhantes a Jesus? Precisamos então viver a cruz do Senhor, não uma vez; mas todos os dias, a cada momento, em cada situação que tivermos que escolher entre viver na carne ou viver no Espírito, segundo a vontade do Pai. Portanto: “Fazei morrer a natureza humana”, “enchei-vos do Espírito”, “transformai-vos pela renovação da vossa mente”, “deixem os valores do reino de Deus ser revelar,  pela morte do velho homem”; são aspectos que precisamos aprender diariamente, e iniciarmos uma vida de santificação e amadurecimento espiritual para sermos agradáveis ao Senhor e instrumentos úteis ao seu reino.

Deixemos a utopia de lado, deixemos as coisas fáceis, deixemos os ensinamentos errados, e iniciemos, perante o Senhor, uma jornada de amadurecimento e transformação, para sermos semelhantes ao Senhor, pelo processo de transformação, de manifestação, da glória de nosso Deus que foi depositada em nossas vidas, para louvor do seu nome. Não é uma jornada fácil, é como atravessar o deserto, mas a recompensa é certa e seremos úteis ao Senhor e ao seu reino, para a glória do seu nome, pois tudo é para ele.